quinta-feira, 22 de março de 2012

E se...? Breve elucubração sobre sucessos e fracassos

E se...? Breve elucubração sobre sucessos e fracassos (na vida, que é curta)
Por Mariana Juer Taragano

Aconteça o que acontecer, não se esqueça, a vida é curta.
A vida é curta demais. Quantas oportunidades de ver o por do sol se perderam, ouvir a chuva, sentir o vento... por onde andava quando o sol raiou, quando aquele amor passou, quando aquele abraço o abraçou e a sua mente para bem longe voou, para algum lugar entre uma futilidade do hoje, uma vaidade de amanhã, uma invejinha de turvar a vista?
Por quantos momentos se passa angustiado, sofrendo por aquilo que não se viveu, que não se venceu, ou que se perdeu... e se houve perda ou fracasso, então, mais do que o insucesso, dói o segredo guardado... pois, com facilidade, cantam-se vitórias; fracassos, nem tanto... e guardam-se segredos e mais segredos e sofre-se pelos segredos guardados e choram-se os segredos contados por outrem...
E se, por alguns momentos, errar, exagerar, vacilar ou fracassar fossem permitidos e não houvesse vergonha dessas histórias e simplesmente se olhasse para esses momentos como aprendizado? E se, no caminho do aprendizado, fosse uma regra o consolo de um colo amigo em frente a uma linda vista, ou naquele canto confortável de casa? E se fossem proibidas as chacotas e as fofocas? E se não existissem os exageros do orgulho e da vergonha? E se sobrasse apenas aquilo que fortalece após um passo em falso ou o reconhecimento da coragem empregada naquela aventura que não deu em nada?
E, após libertar-se das próprias críticas, como abstrair-se das críticas externas? E por que existem tantas e tão severas advindas, por vezes, até de origens impensadas? Será simplesmente porque alguns precisam do tropeço alheio para se sentir mais fortes? E, por que os ditos “fracassados” permitem que sapateiem sobre as suas cabeças? Fragilidade?
Há de ser notar que os que fazem questão desse sapatear sobre os outros não passam de coitados. Se todos tivessem o benefício da lucidez, ainda que momentânea, que permite a sensibilidade da alma às verdadeiras coisas que importam, ninguém teria tempo para maltratar o outro, principalmente o imerso em momentos de desilusão. A lucidez faria enxergar que, em face do que outro passa de tristeza, a única vantagem que se pode tirar é a percepção de que há de se valorizar intimamente o seu próprio momento de glória, pois a vida se desenrola em ciclos e, na roda da vida, quem hoje toca o céu, amanhã poderá tocar o inferno... mas, aos coitados que não usufruem de tal lucidez, sobra apenas escamotear seus próprios medos, invejas e pequenos desastres no sapatear sobre os palcos dos sofridos, as mentes tristes daqueles que, ante a cegueira do sapateador, não passam de palhaços opacos... falidos...
Mas a roda gira... e amanhã o palhaço de ontem retoma o brilho e, quiçá, torna-se o dono do circo. E, quando o sapateador sentir seu solado arranhar, o couro rachar, há de lembrar-se da opacidade que julgava tão distante de si e da humildade que não teve; e há de sofrer sob o pisar de outros sapateadores. E o palhaço, talvez, nem se recorde do dançarino que dele fez uma piada ou, até, seja o palhaço o seu salvador. Mas, perceberá o sapateador o que deixou pelo caminho, o que não viu, o que não sentiu?
E a roda gira e a vida é curta e que os ciclos ensinem, e que não seja tarde demais.