quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Angústia de amor – quem nunca sentiu?

Por Mariana Juer Taragano



Sofre quem perde
Sofre quem teme perder

Fantasia no presente
De dar ciúme do passado
E do futuro que pressente

Sofre por antecipação
Pelo que parte o coração
Mas sabe que não tem razão
Merece é internação

domingo, 17 de janeiro de 2010

Eu quero um amor

Por Mariana Juer Taragano

Eu quero um amor
E quero com carinho
Com beijinho
E muito cheirinho

Mas quero sem pudor
sem temor
só calor

Quero sentir saudade
na ausência
e sentir vontade
na presença

Vontade de tudo fazer junto
Mas também, de junto, fazer nada

Quero sentir o cheiro da vida
E contra o meu peito
o ritmo de outra batida

A música do outro
Que, com a minha,
Vira harmonia, vira bossa, vira samba
Musicados sobre poesia
E não uma poesia qualquer
Mas de quem de verdade quer
Com paixão, com tesão, com mão
Com saliva, com suor e mordida

Mas também com bom papo
Bons tratos
E bons afagos

Pra ser amor
Tem que causar frisson
Escrever poesia até gastar o dom

Cantar desafinado
E desejar ficar trancafiado
Pra gastar a mobília e a pele
Até ficar esgotado

Tem que ter pele e papo
No sol ou na chuva
Tem que ser Parceiro
Com P de quem ama
Seja de cama ou de lama

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os venenosos

Por Luis Fernando Verissimo
fonte: O GLOBO. 24 fev. 2005


O veneno é um furo na teoria da evolução. De acordo com o darwinismo clássico os bichos desenvolvem, por seleção natural, as características que garantem a sua sobrevivência. Adquirem seus mecanismos de defesa e ataque num longo processo em que o acaso tem papel importante: a arma ou o disfarce que o salva dos seus predadores ou facilita o assédio a suas presas é reproduzido na sua descendência, ou na descendência dos que sobrevivem, e lentamente incorporado à espécie. Mas a teoria darwiniana de progressivo aparelhamento das espécies para a sobrevivência não explica o veneno. O veneno não evoluiu. O veneno esteve sempre lá.
 
Nenhum bicho venenoso pode alegar que a luta pela vida o fez assim. Que ele foi ficando venenoso com o tempo, que só descobriu que sua picada era tóxica por acidente, que nunca pensou etc. O veneno sugere que existe, sim, o mal-intencionado nato. O ruim desde o princípio. E o que vale para serpentes vale para o ser humano. Sem querer entrar na velha discussão sobre o valor relativo da genética e da cultura na formação da personalidade, o fato é que não dá para evitar a constatação de que há pessoas venenosas, naturalmente venenosas, assim como há pessoas desafinadas.
 
A comparação não é descabida. Acredito que a mente é um produto cultural, e que descontadas coisas inexplicáveis como um gosto congênito por couve-flor ou pelo “Bolero” de Ravel, somos todos dotados de basicamente o mesmo material cefálico, pronto para ser moldado pelas nossas circunstâncias. Mas então como é que ninguém aprende a ser afinado? Quem é desafinado não tem remédio. Nasce e está condenado a morrer desafinado. No peito de um desafinado também bate um coração, certo, e o desafinado não tem culpa de ser um desafio às teses psicológicas mais simpáticas. Mas é. Matemática se aprende, até alemão se aprende, mas desafinado nunca fica afinado. Como venenoso é de nascença.
 
O que explica não apenas o crime patológico como as pequenas vilanias que nos cercam. A pura maldade inerente a tanto que se vê, ouve ou lê por aí. O insulto gratuito, a mentira infamante, a busca da notoriedade pela ofensa aos outros. Ressentimento ou amargura são características humanas adquiridas, compreensíveis, que explicam muito disto. Pura maldade, só o veneno explica.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Genial e Geniosa

Por Mariana Juer Taragano

Ela entra e me desmonta
Fala forte, fala calmo
Fala muito
E silencia

Nervosa, faz suspense
Ciumenta, faz drama
E divertida em sua tensa trip
Faz até novela mexicana

Se zanga se eu rio
Chora se eu não entendo nada
Mas ri de si mesma
Quando se percebe uma boba desregulada

Arremata minha paciência
Arrebata meu espírito
Arrebenta tudo à volta

E selvagem, se despenteia
Fica vermelha e quer me agredir
Pula em meu colo
Vai se despir
Quer fazer as pazes
Mas não quer assumir

E me beija como uma louca
Se enrosca em meu pescoço
E se agarra em meus cabelos
Como uma menina tola

E me abraça
Me morde
Me arranha

Me arranca a blusa
Me arranca os argumentos
Se ajoelha a meus pés
Me tira a calça
Me tira o chão

Eu fico vendido
Me sinto perdido
Ainda que acolhido

Fico tenso
Quero vencer
Viro o jogo

E emocionalmente dominada
Ela se deita
Suave e suada
E entregue,
Me convida

Doa seus pulsos aos meus punhos
Suas coxas às minhas
Seus lábios ao meu pescoço
E, por fim, sua paz ao meu peito

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sobre Mãos e Fotografias

Por Mario Fioretti
um texto lindo, emocionante, de um amigo muito querido



Eu olhei para as minhas mãos. Me detive, longamente, a olhar para seu formato, sua cor, suas cicatrizes, minhas lembranças. Assim como os olhos, as mãos são capazes de denunciar nosso estado de alma. Se estamos tensos, elas ficam nervosas, frias, pálidas. Se calmos, pousam suavemente uma sobre a outra, se afagando num carinho fraterno. São elas nossas armas de ataque, fechadas e fortes, ou de defesa, tentando proteger, às vezes inutilmente, o corpo ao qual pertencem. Tapam nossos olhos para evitar as mágoas visuais ou nossos ouvidos, para bloquear as influências sobre nossos espíritos. Às vezes, ainda, tapam nossas bocas, para conter palavras que insistem em sair com nossas emoções.
Elas são uma das poucas partes do corpo que conseguimos olhar na sua totalidade sem ajuda de espelhos, e por isso tenho tanta intimidade com as minhas. Conheço-as profundamente, cada marca, suas veias, cada dedo e as linhas da vida que já mentiram sobre o meu futuro, muitas vezes lido e pouco concretizado.
Desde pequeno, sempre tive o hábito de olhar para elas e me lembro como, ainda com 7 ou 8 anos, eu via formas engraçadas, tão malucas que não podia dividir com ninguém, com medo de ser tachado de louco, ainda tão pequeno. Meu dedo indicador esquerdo, por exemplo, era branquinho, com uma unha pequena, sem graça, achava ele parecido com o Paulo, um vizinho velhíssimo que já devia ter uns 15 anos, mais ou menos.
No anular, sempre da mão esquerda, uma pequena verruga dominava a cena. Ela ainda existe, encoberta por marcas, pelos e rugas, que só eu consigo ver porque sei onde se esconde.
Nunca gostei do formato das minhas mãos, gordinhas, não importa o quanto eu emagrecesse. Herdei de meu avô Vitor. Na verdade, elas são cópias irritantemente fiéis das mãos dele, e inconscientemente, sempre o culpei por isso. Preferia que fossem iguais às do outro avô, Dino, o pianista, longas, bem desenhadas, elegantes. Mas tive que me consolar com as mãos de um trabalhador espanhol, de palmas grandes e dedos rechonchudos e curtinhos, que eu sempre temi que associassem a um pinto pequeno.
Com o passar dos anos, elas foram ganhando cicatrizes de várias origens. O que mais contribuiu foi minha mania de construir aviõezinhos de madeira, quando operava com pouca destreza estiletes e faquinhas de diversos tipos. Muitas delas já sumiram ao longo dos anos, uma das vantagens do envelhecimento.
No polegar ainda tenho uma grande que já foi maior, conquistada ao subir num muro de cimento rústico para pegar a pipa que havia caído no terreno baldio. Primeiro dia de férias, fiquei com o dedo pingando pus o mês todo, e deixou uma cicatriz no dedo e outra na memória, pelas férias doloridas.
À medida que eu ia crescendo, as mãos começaram a desenvolver outras habilidades. Gostava de desenhar. Sonhava acordado e foi através delas que eu visualizava esses sonhos, projetando-os em folhas de papel sulfite nas noites de sábado, quando meus pais saiam e eu ficava madrugada a dentro vencendo corridas de automóvel, pilotando aviões em guerras imaginárias, vencendo vilões interplanetários. Todo sábado era a mesma coisa: sentava confortavelmente no sofá, a televisão ligada com o volume baixinho, copos de Nescau, e papéis e lápis, nunca de cor, preferia os pretos, HB. Horas depois, meus pais chegavam, me davam um beijo e iam dormir. Antes disso, minha mãe tentava se interessar pelo que eu havia desenhado, com uma ternura sonolenta.
Houve um dia em que eu achei que seria um projetista de automóveis, minha então grande paixão, e criei centenas de automóveis nos anos que se seguiram. Mais que carros, criava histórias e é impressionante como hoje, revendo aqueles velhos desenhos, sou capaz de me lembrar o que ia pensando quando desenhava cada um deles. Projetava alguns modelos com os nomes das meninas que eu gostava, achava a idéia ótima. Me lembro bem de um coupê batizado de Sonia, uma garota com quem eu queria ser casado. Por isso era um carro de família, quatro portas, com espaço para filhos, cachorro e compras. Nunca mais a vi, mas o desenho eu tenho até hoje guardado, como recordação de uma paixão infantil.
Minhas mãos não me tornaram um designer de automóveis, não por culpa delas, coitadas, mas me ajudaram a ganhar a vida, sendo o que sou e tendo o que tenho. Me tornei um desenhista de geladeiras e fogões, com menos glamour, é claro, mas nunca deixei de dar a elas o reconhecimento merecido. Cada vez que viajava ao exterior para países distantes como  Suécia, Japão, Coréia, entre tantos outros, tinha o hábito de olhar para elas quando o avião estava prestes a pousar e agradecê-las como as responsáveis por mais aquela experiência. Olhava para a palma de minhas mãos, com a pele delicada próprias de alguém que sempre trabalhou com lápis e papel e agradecia por terem me ajudado a estar ali. Nesse momento eu as via como amigas, companheiras, quase com vida própria, que é o que todo homem sente com relação aos membros de cuja performance depende sua felicidade.
Foram elas, também, companheiras de minhas aventuras sentimentais. Me lembro da vez que peguei pela primeira vez na mão de uma namorada. Era a Zanza, irmã de meu amigo Ricardo. Durante uma festinha de garagem, saímos e fomos sentar no parachoque de um fusca branco estacionado na porta. Ela tomou a iniciativa...e senti sua mão quente, úmida, macia, segurando na minha. Eu gelei, mas me mantive firme. Me apaixonei perdidamente pela Zanza. Durou bem a festa toda. Dançamos coladinhos, sentia seu corpo gordinho, quase sem seios ainda, apertado contra o meu. O nirvana. Descobri, pouco depois, que ela fazia isso em toda festinha, cada vez com um garoto diferente. Frustrado, o homem-objeto sofreu, mas infelizmente, ainda loucamente apaixonado. A primeira mão a gente nunca esquece.
Nos relacionamentos futuros elas foram desenvolvendo mais e melhores habilidades, no início tímidas, depois cada vez mais ágeis e ousadas, aprendendo a cada ano que passava o momento certo de serem suaves e delicadas ou firmes e seguras. Com o casamento, uma delas ganhou uma aliança de ouro pesada e sólida, e aí, com os filhos que vieram, se tornaram gentis e protetoras, trocando fraldas e dando banhos em temperaturas tépidas. Adquiriram a indispensável habilidade de embalar para dormir, contando com uma ajudinha das poucas canções de ninar que eu tentava improvisar.
Anos depois, no entanto, veio o tempo que essa aliança pesou mais do que deveria e depois de muitas tempestades, foi arrancada com violência e determinação, deixando minha mão esquerda tão leve quanto minha alma.
Nunca foram capazes de tocar uma nota sequer de instrumento algum, e aí sim eu as denuncio como totalmente responsáveis por isso, mas o tempo passou e agora é tarde para elas se redimirem. Mas possuem a utilíssima capacidade de tamborilar velozmente no teclado de um notebook.
Noto que estão envelhecendo agora. Já tem algumas manchas e vez ou outra sentem uma certa fraqueza, talvez de cansaço. Já não desenham mais nem projetam sonhos, alguns já vividos na realidade dos anos, outros definitivamente abandonados, mas nunca esquecidos.
Hoje, quando olhei para minhas mãos eu vi, nas duas, como num álbum de fotografias, muitos momentos de minha vida.

Namorado: Ter ou nao ter, é uma questão


Um texto de Carlos Drummond de Andrade que as pessoas que andam banalizando as relações amorosas deveriam ler atentamente.



Quem não tem namorado é alguém que tirou férias nao remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhaçao, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. 

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixao é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil.

Namorado nao precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteçao. A proteçao dele nao precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensao ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado nao é quem nao tem um amor: é quem nao sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessao das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de maos dadas; de carinho escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Nao tem namorado quem nao gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Nao tem namorado quem nao redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical na Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem nao dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Nao tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Nao tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Nao tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigaçoes; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Nao tem namorado quem confunde solidao com ficar sozinho. Nao tem namorado quem nao fala sozinho, nao ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. 

Se você nao tem namorado porque nao descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de maos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricçoes de esperança. De alma escovada e coraçao estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. 

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intençoes de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chao estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você nao tem namorado é porque ainda nao enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. 

Enlou-cresça.



Lá vem ela...


Por Mariana Juer Taragano para sua sobrinha


Lá vem ela, lá vem ela...
uma menina, uma alegria
uma florzinha que já vai nascer

Ainda é um brotinho
Um frutinho a crescer

E lá vem ela, lá vem ela...
Já balança na barriga da mamãe
E cruza perninha
Faz charminho e parece
Dançar um sambinha

É sapequinha
Escondia o sexo para manter o mistério
Mas se descuidou e de um relance
O mistério se dissipou

Lá vem ela, lá vem ela...
Trazer alegria para a mamãe
Em maio que é das mães, mas também do sol, das famílias
E do trabalho!
E quanto trabalho ela dará...

Lá vem ela, lá vem ela...
Uma coisinha, uma pedrinha
Pedrinha preciosa
Tão desejada, trabalhada e esperada

Lá vem ela, lá vem ela...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Rio – Que venha o CHOQUE DE ORDEM!

Por Mariana Juer Taragano

Eu sempre defendi o Rio, juro. Meu clima balança dado pelo signo que rege meu nascimento me propicia um certo ar de justiça, então sim, é verdade que sempre admiti as fraquezas da minha cidade, mas sempre afirmei que na balança dos ônus e bônus, os bônus, talvez pela presença de uma letrinha adicional, sempre pesaram mais.

Infelizmente, preciso confessar que ao voltar a morar no Rio em 2009, após alguns anos fora, tomei um choque com a desordem, com a sujeira, com as grades dos prédios. Há quem afirme que para haver a ordem é preciso passar antes pelo caos e vejo isso em coisas simples como a forma pela qual começo a escrever (e por vezes, termino), estudar, lavar o carro, arrumar a casa. Aliás, o big bang e a história da política novaiorquina contam algo parecido, não?

Então creio, e aqui entenda-se “crer” por extrema fé, que o “choque de ordem” instaurado no Rio de Janeiro venha mesmo a trazer a paz, mesmo que para isso, precisemos antes sentir na pele o que essa operação vem causando entre aqueles que por ela não têm interesse algum: Uma raiva, um descontentamento, uma ira causadora de estragos que só deus e os cariocas, de nascimento ou de coração, podem entender de fato.

Ontem, foram duas explosões, hoje, mais duas e alguns tiros na esquina da minha casa na zona sul da cidade. Ninguém me contou, eu vi, e me joguei no chão assustada na primeira explosão, quando ainda estava na rua. Quando saí correndo fugindo para casa, pessoas nas janelas de até alguns quarteirões adiante estendiam os pescoços e perguntavam “o que você viu?”. Parei para contar? De jeito nenhum! Saí disparada, como uma fugitiva, uma prisioneira do meu lar gritando “já para dentro! Explodiu uma granada!!! Tem tiro!!!”. Mas o olhar sádico, masoquista ou curioso de alguns não permitiu que os ouvidos escutassem com atenção o que meu coração acelerado expelia pela minha boca trêmula. E, por incrível que pareça, fiquei aliviada ao ver o que em outro lugar poderia parecer óbvio: dois carros de polícia atrás dos bandidos.

Que eu saiba, até agora não há feridos, graças a Deus, mas o deus nos acuda, que já era evidente nas grades que dominaram os prédios da cidade nos últimos anos, agora está ainda mais assustador.

Mas, enfim, se esse é um meio para se alcançar o fim “paz” imposto pelo “Paes”, sou... A favor... Pelo menos, neste minuto.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Reveillon de VIP


Por Mariana Juer Taragano

Um dia de glória
Um dia de história
Você acha que é top
Quase pensa que é pop!

Te estendem o tapete vermelho
Te dão uma pulseira com lacre
E você se acha uma jóia (de araque)

Te tiram fotos
Te jogam os flashes
E você sai na revista
Mas sem legenda!
Aí você percebe que era tudo lenda...

E se é esperto, dá risada
Mas se é bobo, dá uma afetada
Há de dizer: “quem eles pensam que são?”
“usaram minha imagem para dar um condão!”

Aí você se dá conta
Que não vale ressaca de tanta monta
Vai contar pro povo
Vai dar risada dos 15 minutos de fartação
Que aproveitou de montão

E vai cair na real
Que se deus quiser
E você trabalhar para isso
Ou se a sorte bater no seu cortiço
Ano que vem tem mais história
Com mais glória
Pra guardar na memória!