Por MJ Taragano
Mudanças são sempre muito cansativas…
Claro que existe o fator de euforia por ir para um lar novo, novinho em folha.
Quando todo montadinho, sob medida para nossa felicidade então, nem se fala.
Mas, para se concretizar, a mudança passa por vários processos desgastantes,
dentre eles, a obra (sobre esta, nem comento!) e a famosa “faxina”.
Abrem-se armários, gavetas,
caixas e todos aqueles pacotes que você um dia guardou e já não sabe mais para
quê. - Só para se aporrinhar um dia? – Nem se imagina o que existe mais no
fundo daqueles armários. Bem, imaginar, pode até imaginar, mas como se engana! No
meu caso, que saio de um apartamento cheio deles e onde viveram muitas pessoas
da família, o conforto de saber que o apartamento estava sempre passando para
um parente, permitiu o luxo, aos moradores anteriores, de acumular ao longo dos
anos um sem número de lembrancinhas, documentos, cartinhas, brinquedinhos
antigos... “Ah, vou deixar essas coisas aqui, não atrapalham né?”. Eu mesma fui
uma dessas que saiu, deixando rastros para minha Irmã, mas voltei, ela saiu e,
um tempinho depois... próxima mudança! Mas quem virá agora? Socorro!!! Não é um
parente!!! E agora? O que fazer com todas essas tralhas??? E distribuo senhas para a família entrar e
recolher, selecionar, descartar suas ... coisinhas... E haja coisinhas...
Tomei como minha a tarefa de
fazer, ao mínimo, a primeira limpa. E aí eu acho que descobri para que servem
aqueles embrulhos que nunca abrimos, e dos quais não abrimos mão. Ou melhor, só abrimos quando fazemos mudança,
ou mudanças... só lá pela segunda ou terceira rodada é que resolvemos desvendar o que há
dentro daqueles sacos, caixas, envelopes... é que, pra certas coisas, é preciso
ter tempo para a despedida... mais ainda, essas coisas têm um papel ao longo
das mudanças. Quando abrimos as caixas, abrimos espaço para rememorar... E
justamente quando gostaríamos de ter uma casinha “clean”, a “lixarada” traz, além de outras coisas, as quais não cabe
citar aqui, um pedacinho de saudade guardada nos cantinhos dos armários, uma
pontinha de amor, um resquício de um tempo que passou e do qual pouco ficou, do
qual não lembraríamos nada se não fosse aquele pacotinho guardado “por pena de
jogar fora”, “para acaso algum dia precise”...
Em meio à zona, surgem
brinquedos, cartas e postais (veja só!!! CARTAS!!! POSTAIS!!!), e entre eles, bilhetinhos
da época da escola, cartões da Vovó, desejos de um bom ano, mensagens de
saudades de quando fui estudar fora, despedidas, reencontros... e aquela
cartinha, da adolescência, de um amigo meu contando como achou a minha mais
nova amiga “fofa”! - Casaram-se treze anos depois.
E no mutirão, meu Pai se
emocionou ao encontrar o livro de ponto da loja do meu Avô, cujo primeiro
registro devia ter mais de 40 anos e cujas fotos dos funcionários pareciam ter
sido tiradas de um filme antigo, romântico – nada se comparam às fotos dos
crachás de hoje, as pessoas se arrumavam para os flashes! E o fotógrafo também...
E aí, desvendo o mistério do
porquê de guardarmos tantas coisas. Para quando vierem as mudanças ou as
faxinas. Em meio à trabalheira, surgirão gostosas lembranças de velhas
amizades, de brincadeiras, de pessoas esquecidas ... uma fração da infância...
como se gavetinhas mentais fossem sendo abertas jorrando emoções para nossos
corações, deixando o estresse da mudança de lado por alguns instantes.
Guardamos para termos sempre caquinhos de outras épocas e nos apercebermos de que
todo esse processo trabalhoso é só a superfície de um monte de emoções que
ainda estão por vir.