sexta-feira, 30 de abril de 2010

Fatias da Vida

Por Mariana Juer Taragano

De quantas fatias é feita uma vida?
Algumas doces, outras amargas
Umas, sem muito gosto, quase passam despercebidas

Fatias gordas têm gosto de almoço em família
Crianças correndo e gritando
A matriarca organizando a logística gourmet
E com alguém se esgoelando
Irmãos e primos se reencontrando
E um cunhado novo para a família entrando
O velho avô já nem parece tão velho por tamanha felicidade embriagado
E sorri alegremente, ao contar as mesmas histórias do passado

Fatias finas parecem lembrar aqueles momentos que não vivemos plenamente
Aqueles para os quais nunca tínhamos tempo
Ou motivação, simplesmente
Talvez, um dia, nos arrependamos
Ou, até, por eles nos envaideçamos

Há aquelas fatias de mentirinha,
O "parece mas não é" da vida,
Que terão seu gosto desvelado tempos depois de digeridas
Será que alguma lição foi aprendida?

Há fatias amargas, outras, azedas
Fatias que queimam, que pesam, que ferem
Mas que treinam nosso paladar
E nos ensinam as doces valorizar

Ah... as fatias doces...
Cada um sabe do recheio que mais gosta
Mas fatia doce, geralmente, tem gosto de amor
Amor vivido, amor corrido
E até amor sofrido (claro, quando já está vencido)
E amor reprimido!
Amor escondido!

Fatia doce tem gosto de colo de mãe
Piada de pai
Sorriso de filho
Carinho de amigo

Fatia doce tem doçura que não vem de puro açúcar
Vem de mistura, de confiança, de ternura
E não vem com identificação em creme escrito “doce”,
Pronta para ser gulosamente devorada
E, irresponsavelmente, engolida
Tem que ser, antes de tudo, reconhecida
Para, depois, ser cuidadosamente compartilhada e degustada. 

Um comentário:

  1. Você falou tão bem sobre as "fatias que comemos todos os dias"... lindo, Mari! LINDO!

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