quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Joana - PARTE 1


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Por Mariana Juer Taragano

Conheci a Joana em um bar na Cinelândia. Um final de semana de verão, inúmeras possibilidades e fui parar no bar onde aquela ruiva meio pirada estava. Mas quem pirou fui eu.

Joana estava sentada junto a outros amigos bichos-grilos em uma mesa de canto. Eu entrei no bar e a primeira coisa que avistei foi aquela cabeleira incandescente muito cacheada envolvida por um lenço roxo. Joaninha nem me viu. Envolvida em uma discussão acalorada regada a muitos chopes, nem olhava à volta. Mas com tanto líquido ingerido, uma hora ela teria que ir ao banheiro. Arrumei um lugarzinho próximo ao balcão do bar, em um estreito corredor, por onde aquela figura intrigante teria que passar em algum momento.

E foi assim que nos conhecemos. Quando ela passou por mim e tentei puxar um papo, ela deu uma piscada suave, talvez pelo charme próprio da beldade, talvez pelo charme do álcool contido na tulipa que a ruiva não permitia esvaziar, e acenou com o indicador, pedindo um minuto. Sua unha, pintada de vermelho, estava descascada na ponta. Eu sempre disse, em meus discursos de playboy da zona sul do Rio, ou de machista de meia tigela, que mulher, para ter chance comigo, precisava ter mãos impecáveis. Quando vi aquela unha, o único sentimento que tive, ao contrário do que imaginaria em outros tempos, foi de emoção, de graça. Meu peito se encheu de adrenalina de tal forma, que me peguei rindo de mim mesmo, ao perceber que aquela mãozinha, com ou sem unha vermelha, com ou sem impecabilidades, me fazia pensar em cometer pecados. Aquelas mãos sardentas e aquele sorriso sapeca me deixaram louco, tomado por um sentimento, que naquele momento acreditei ser tesão, mas era mais que isso, era paixão mesmo.

Joana saiu do banheiro ainda esfregando as mãos úmidas na calça e quando se viu pega no flagra, sorriu, deitando o rostinho sobre o ombro direito levemente levantado. Virou-se então para o balcão e pediu com toda a pompa de quem manda no local:

- Seu Nivaldo, não tem mais papel toalha no banheiro!

Aí eu pensei: “Agora já era, a menina é bebum, vive na boemia e, pra piorar, é da esquerda ferrenha! Só pode ser, pelos tipos com quem está!”

Então, a ruiva me olhou como quem esperava uma frase qualquer durante aqueles dois passos que daria para passar por mim e seguir para sua mesa. Fiquei meio sem jeito, talvez até enrubescido, o que faria todo o sentido dada a tamanha empolgação que me invadira, mesmo com aqueles vieses percebidos. No fundo, nada daquilo me faria mudar de ideia. Então, brinquei com ela:

- Bem, você bebe um chopinho, curte uma boemia, tem um estilo despojado... só falta dizer que é de esquerda!

Joana abaixou a cabeça e me lançou um olhar de baixo para cima, meio de lado, levantando uma sobrancelha e falou:

- Bem, meu bem, você usa camisa de botão, tem o cabelo arrumadinho, a barba bem feita e não sabe se aproximar de uma mulher. Só pode ser de direita!

Abri a boca para responder alguma coisa que certamente só estragaria ainda mais aquele momento que mal havia começado - e por que não dizer que havia começado mal? – quando Joana colocou rapidamente dois dedinhos daquela linda mão ruivinha sobre a minha boca e falou:

- Fica quietinho, fica, porque eu já gostei de você e não quero que isso mude.

Nossa mãe do céu! Era um presente divino. Só podia ser. Eu sempre tive fantasias com mulheres ruivas, mas nunca havia saído com uma. Aquela moça me provocou arrepios...

 CONTINUAR - Parte 2

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