segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Maldita família desequilibrada - PARTE 2 - FINAL

por Mariana Juer Taragano


No dia seguinte, acordei resolvido a matar o maldito trabalho... A causa era nobre: um grande amor... Diria qualquer coisa “me encontro enfermo, enfermo de febre, de febre de paixão de chama que me consome”... Entrei no ônibus atrás da beldade. Ela se sentou lá na frente, como uma boa moça de família. Que balanço sobre aqueles saltos e que bela panturrilha percorreu o corredor... Ai, meus instintos imploravam por um beijo na dobra atrás do joelho e uma mordida naquela linda batata da perna... Agora o vestido era mais curto e mais ousado, a primavera estava linda e alva, elegantemente vestida. E os benditos cabelos?? Por que não os solta??

Num dia de calor, me levantei e fui mais cedo para o ponto, me preparei para descobrir mais detalhes daquela beleza misteriosa... Mas ela já estava lá quando cheguei... Linda de vestido mais justo, branco, mais curto e decotado... Seu chapéu, de abas estreitas, já me permitia ver um pouco mais daquela alva face. Como ela era linda. Não, não me enganei, ela era definitivamente a mulher dos meus sonhos, que já não usava aqueles sapatos fechados que mal me permitiam ver seus belos pezinhos... Um escarpim fino aberto atrás me permitia ver que tinha um lindo calcanhar, rosado, fino e firme sobre aqueles terríveis e maldosos saltos. Ah... Aqueles saltos... Aquela postura empinada... Que curvas e aquela batata! Mulher elegante de pé delicado... Isso era o paraíso na Terra. Mas eu precisava de coragem, e ia me preparar para falar com ela.

No dia seguinte, respirei fundo, já era verão e nessa época as pessoas são mais calorosas, receptivas. Estava resolvido. Contaria tudo a ela, que a vira tantas vezes e que não resistira à gana de saber, no mínimo, seu nome. Contaria que ela exercia essa força estranha de atração sobre mim. E se fosse comprometida? Não, não era possível, pelo menos, casada não era, pois nunca vira uma aliança naqueles longos e belos dedos que por tantas vezes acompanhara em seus movimentos para ajeitar os grampos do chumaço castanho.

Decidi sair da inércia e ir em frente. Fui ao ponto. A moça já estava lá, linda, elegantíssima e aquele rosto incrível me fitou os olhos por menos de um segundo, mas me fitou. Agora eu não era mais um estranho; ela me viu e me notou. Fui até ela, olhei em seus belos olhos castanhos e comecei “bom dia” e ela delicadamente, ainda que seguramente me respondeu “bom dia” e não resistindo ao momento, a olhei de cima a baixo. Poderia engoli-la naquele instante, mas quando meus olhos passaram na altura de seu colo, enchi meu peito de coragem e falei “olha moça, eu a vejo sempre...”, estava a ponto de continuar a frase, quando meus olhos alcançaram seus pés. Quase não me contive com tamanha felicidade ao encontrá-los em belas sandálias e não mais naqueles sapatos fechados e graças a deus me contive! Que pé feio!!! Malditos dedinhos!!! Ah não, mulher com pé feio não serve para casar, nem para amar! A tempo, eu percebi que seus dedinhos pareciam mais uma família infeliz e desequilibrada! Respirei fundo e continuei “Olha moça, eu a vejo sempre aqui no ponto e já até pegamos a mesma condução, a senhora perde muito tempo, deveria pegar o ônibus 677. Até mais ver!” e ela, educadamente, agradeceu “Obrigada senhor”.

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