quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Maldita família desequilibrada - PARTE 1

Por Mariana Juer Taragano

Mais uma vez eu estava naquele maldito ponto de ônibus. Minha vida não passava de uma bela caixa de não surpresas e a rotina me sufocava de tal forma que parecia fazer minha vista embaçar. Talvez não quisesse enxergar a minha sina de funcionário público, mal pago, descrente e sem amor. Ah... Um amor, eu sonhava sim com ele... Até que em uma manhã de um dia frio, a vista pareceu desembaçar...

Naquela segunda-feira, no ponto de ônibus, algo balançou ao vento e me chamou a atenção. Meu coração palpitara, as pupilas dilataram e não era uma miragem. No ponto de partida de minhas jornadas diárias rumo ao martírio, eu encontrara o amor de minha vida. Não, não era linda, mas era estonteantemente deslumbrante... Fios louros que escorregaram de todo o chumaço de inebriante cabelo mal preso no topo da cabeça balançavam ao ritmo do vento e me hipnotizavam... Aqueles benditos fiozinhos eram os resquícios infantis de uma cabeleira castanha que pesava, a qual eu imaginava se soltando daqueles grampos, me cegando...

Seu pescocinho delicado introduzia em meus olhos o caminho traçado por uma leve pelugem clarinha até as belas costas que se iam apenas até as fronteiras do muito comportado vestido azul. Ombros escapavam ilesos e ilícitos das alças; brancos, visivelmente macios e lisos. Não havia uma sarda, marca, pinta naquela mulher. O que me instigava a procurar. Mas me recusei a descer o olhar. Não, não! Preciso respeitar essa que pode ser a grande mulher! Ai, ai, ai, oras, mas o que estou pensando??? Oras, oras e oras bolas, será possível??? Já entrei no meu mundo fantasioso??? Vamos rapaz, desça o maldito olhar! Quem é essa moça afinal para causar tamanho furor e repentino respeito??? Você, em sua mediocridade, nunca a terá mesmo!!! Decidido, desci o olhar. Linda cinturinha, proporcional àqueles belos ombros, nem largos, nem finos, apenas femininos. Ardentes talvez, e quem sabe, ávidos por beijos...

Por um momento, achei que veria seu rosto, mas ela me enganou. Uma leve virada para verificar se seu ônibus se aproximava apenas me permitiu ver seu lindo maxilar, delicado, bem delineado, branco, e a boquinha... Hum... Certamente feita para beijar. Mas foi tudo tão rápido, nem pude ver seu perfil decentemente. Para minha sorte, o ônibus não chegara ainda... O meu, já passara duas vezes!

Sob o vestido azul bem cintado, havia um belo quadril, certamente. Um quadril imaginário, pois a saia rodada não me permitia ver muito, mas mulher como aquela não poderia ter um quadril feio, desproporcional... O meu ônibus chegara e no susto com o grito do colega de departamento “Bom dia Sr. Osório! Venha, entre logo!” à janela, me senti perdido de pavor, como uma criança pega em flagrante furtando o morango do bolo. E quando caí em mim, na minha realidade de assalariado, atrasado, mal pago, mal amado, e com péssimos e malditos colegas, nem pude me despedir com um olhar que fosse. Quando corri para um lado, me dei conta de que o vestido azul correra para o outro, de costas - de lindas costas- para pegar a sua condução.

E os dias passaram e vi um vestido vermelho rodado, belas orelhas, linda nuca; um vestido preto que de tão fechado para protegê-la do frio matinal, me deprimiu, belas botas; um vestido cinza, triste... tal cor deveria ser proibida! Não fosse a inexorável justeza e a permissiva transparência que me consentiram conhecer melhor o bendito quadril misterioso e a marca da lingerie. Ai deus me perdoe, a marca da lingerie... Marca ondulada... Indício uma renda sacana, que quase me arrancou lágrimas de emoção...

Minha falta de coragem em me aproximar me posicionava sempre no fundo do ponto de ônibus e quando ela chegava, sempre por uma ironia do meu destino, ou a moça olhava para a rua, o que me permitia apreciar apenas parte de seu perfil, ou estava de chapéu que fazia sombra em seu rosto... Maldita mulher! O que ela tem de errado que esconde a face??? Ainda vou segui-la, até descobrir o que essa moça encobre.

No dia seguinte, acordei resolvido...

CONTINUAR - Parte 2 e final

Um comentário:

  1. Mariii, quando vc vai colocar a segunda parte?
    Estou curiosooo powww!!!! Ficou muito legal viu ;). Gostei desse seu Dom de escrever!!!

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