sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Joana - PARTE 3

Por Mariana Juer Taragano

Juro que naquele momento lembrei-me da história da lua. Que vontade de falar daquele bumbum. Eu já havia reparado um pouco quando ela se levantara para ir ao banheiro mais uma vez. Sob a calça de tecido suave eu via leves curvas movimentando o pano. Pensei em falar algo bem safado para ela, mas eu estragaria tudo. Não combinaria com o momento. E respondi:

- Joana, eu preciso te confessar que hoje o teu cabelo me inspirou, amanhã vou escolher alguma madeira bem avermelhada para começar algo novo.

Joana se esbaldou em uma risada que me instigou ainda mais.

- É mesmo? E que tipo de móvel seria? Uma mesa? Uma cadeira cheia de argolas?

- Talvez. Mas uma coisa é certa. Usaria canjerana! Uma madeira muito especial. É forte como você, tem frutos belíssimos... – parei por um momento ao notar que, pela primeira vez, aquela inquietude em pessoa me olhava com tranqüilidade, profundamente.

- Por que você parou?

- Parei, Joana, porque acabei de me dar conta do quanto você ilumina o ambiente onde está.

- Então eu serei uma luminária? – perguntou rindo, meio irônica, mas no fundo, aquilo era o jeito de demonstrar que ficara constrangida com o elogio. Ou, talvez, fosse só seu jeitinho alegre mesmo.

- Joana, você “pode ser” uma luminária sim. Mas, mais que isso, você alegra o ambiente também, então teria que ser algo com um desenho moderno, divertido.

E falamos de arte, de cinema, de música, de esportes, da infância, da praia, das sardas de Joana. Tive desejo de saber até onde iam aqueles pontinhos charmosos. Eu queria contar quantos havia espalhados pelo seu corpo e quantos anéis havia em seus cabelos.

Toda vez que a manga da bata hippie que Joana usava deslizava sobre seu ombro, ela rapidamente a colocava no lugar. Eu ficava imaginando como seria se ela não a levantasse mais. E pedi:

- Para.

- Para o quê?

- Para de colocar no lugar. Deixa a manga assim.

- Assim, caída? – perguntou passando a mão sobre o ombro, descendo a manga lentamente para o lugar de onde a tirara. Eu me lembro dessa cena claramente, mas não tenho em minha mente seu esmalte descascado, e sim a imagem de dedos delicados obedecendo a meu pedido com suavidade. E Joana completou, me provocando:

– Mas se ela descer mais, corro o risco de ficar nua aqui.

Nada respondi, fitei aquele ombro, sua “saboneteira”, seu colo. Uma suave marca de biquíni mostrando algo além daquela brancura salpicada de sardas. Joana respeitou meu momento e ficou me olhando de volta. Minha mão direita estava sobre a mesa. Ela, lentamente, aproximou sua mão da minha. Encostou seu mindinho em meu indicador. Fez um leve carinho que eu correspondi, sem tirar os olhos do seu rosto. Olhei sua boca e ela escorregou dois dedos sobre minha mão. Fitei seu colo e sua mão inteira deslizava sobre a minha. Olhei para os seios levemente marcados sob a bata escura e foi quando percebi que se excitavam junto comigo, me peguei boquiaberto. Respirei fundo. Ela apertou minha mão. Ela me correspondia. Já estava completamente excitado e com a mão que eu largara sobre o meu colo minuto antes, não resisti em me tocar.

Olhei então nos olhos dela para saber se havia notado, se havia se incomodado. Então, ela mordeu os lábios, passou a mão direita na nuca, enquanto a esquerda roçava eroticamente a minha. Estávamos sentados frente a frente e, ela, com semblante sério, mas totalmente tomado de desejo, subia e descia o olhar entre meus olhos e aquilo que ela não podia ver, escondido sob a mesa, mas que, certamente, conseguia imaginar e queria que eu soubesse disso.

Ela demonstrava nitidamente que se deliciava com aquela situação. Nós estávamos em um hotel e sabíamos que poderíamos pedir um quarto a qualquer momento. Mas havia naquela cena um erotismo, um suspense que intrigava direita e esquerda. Começamos a roçar nossos pés sob a mesa, mas muito sutilmente. Trocamos olhares muitas vezes. Eu reparava como o peito dela se enchia de ar, o que parecia estar roubando todo o ar da sala, roubando todo o meu oxigênio. Eu respirava fundo cada vez que observava um movimento de excitação dela ou uma tentativa qualquer de autocontrole para não dar bandeira. E me dei conta de que estávamos completamente entregues a um desejo que poderia nos expor a qualquer momento a uma situação que poria fim àquela noite mágica.

Respirei fundo, levantei a mão que antes estava sob a mesa e acenei para o garçom, pedindo a conta. Joana puxou o meu braço para baixo, colocou minhas mãos em seu rosto e disse:

- Você não vai embora, não é?

Eu sorri e disse:

- Que homem no mundo seria capaz, ruiva?

Ela sorriu aliviada, soltou minhas mãos levemente para que eu continuasse fechando a conta e me olhou, levantando a sobrancelha esquerda, enquanto apoiava o rosto sobre a mão direita. Foi a primeira vez que vi Joana sem graça, de verdade. Suas maçãs do rosto ficaram levemente rosadas. Parecia acordar de um sonho e se dar conta de que dormira em algum lugar completamente inusitado.

Ao entregar a conta, o garçom me trouxe também a chave de um quarto. Paguei e me levantei, estendendo a mão para ela. Entramos no elevador. Paramos de frente para a porta, de mãos dadas. Joana me olhava. Chegamos ao quarto andar quando retribui o olhar, abrindo a porta. Meu coração nunca batera tão rapidamente por uma mulher. Joana parecia saber disso ao me fitar os olhos mais uma vez enquanto eu tentava abrir a porta do quarto. E me perguntou:

- Você está tenso, não está?

- Estou Joana, não vou mentir para você.

- Eu fico lisonjeada em saber que te deixo nervoso. Também estou nervosa, coloca a mão aqui – puxou minha mão da maçaneta, colocando sobre seu peito. A batida era forte, seu corpo estava quente, e a porta se abriu.

Envolvi a cintura de Joana arrastando-a para dentro.

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